quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Isabel vivida

A mim não caberia aquela sensatez, calmaria das moças de boa família dotadas de bons sobrenomes.
Não era aquilo que eu desejava.
- Isabel queria mais do que ser boa filha, mãe, esposa, neta, requintada nos toques ao piano e moça de bons modos. 
Sabia sentar-se à mesa, lidar com os talheres de uma natureza impressionante. Dançava e tinha um bom papo.
Mas Isabel era mais do que pano de prato em aniversário de mulher casada.
Isabel não era objeto de casa, era objeto de si. Proprietária de suas pernas, que se ela não usasse, acabaria algum engraçadinho usando-as e desperdiçando-as.
Isabel combinava com as noites de lua cheia, com os boêmios da rua da Lapa e os bonitos vestidos vermelhos da dançarina de tango.
Isabel era bem mais do que a boa moça. Era uma moça boa - e como.
Queria levantar daquela cadeira bem estofada e correr às ruas, com o vento a bailar com seus cabelos negros e bem arrumados.
Almejava, mais que tudo, ser dona de si, e não dos outros. 
Queria pertencer ao mundo dos adultos, dos livres, dos que podem tudo. 
Dormir até meio-dia passado, pôr o salto mais alto, a saia mais bela e a blusa mais glamour. A maquiagem mais extravagante e, de uma vez por todas, sorrir, como quem sorri as crianças que brincam na praça. Sorrir de verdade, com um sorriso belo e enorme, deixar de lado o leve sorrizinho amarelo.
Isabel queria viver, cair nas noites e não dever satisfações ao marido arranjado. Isabel, mais que tudo, queria respirar um mundo todo seu: queria ser só sua e não mais dos outros.
Usar aquilo que Deus lhe dera ao invés de ser o que "Deus quiser".
Isa era tempestade demais para aquela paz. Era um vulcão que nunca cessaria. Queria vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela atenção, volte sempre e deixe seu comentário, que é muito importante!