sábado, 18 de junho de 2011

Quando o tarde vira soma

-Eu preciso ir embora.
E depois disto a porta se abriu e em poucos segundos ouviu a partida do carro, que enquanto ele corria para a janela - aquela verde, de frente para a árvore, a qual passavam as tardes sonhando - ela já dobrava a esquina e não mais voltara. Ele sabia, ela muito mais.
As coisas não andavam bem, e como por misericórdia daquele sonho, sonhado lá atrás, logo no inicio, quando tudo era tão belo e tudo era tão facilmente desbravado, nenhum queria pular fora, acabar com a realidade em que cada um criava para suportar, ao invés de dividirem suas vidas, de se somarem.
Quando Claudia lhe avisara que não aguentava mais, Roberto não quis acreditar. Pensara que como ele, ela seria capaz de não perceber a situação e seguir seus dias cinzentos de forma continua, assim como quem não vive e já morreu, mas insiste em fazer parte.
Ele duvidou que a doce menina do colegial, dos sonhos doces e fascinantes, pudera um dia se tornar figura de um insucesso, como aquele vinte de julho de oitenta e três, quando os sinos soaram e eles se juraram. Tão pouco sabiam que os sonhos iriam se tornar melancolia.
E como quem desbrava o mar, ela saiu pela porta e não mais voltou. Até que ele procurasse ela. Mas ele deixou escapar pelos seus dedos a sua maior paixão e agora pouco iria fazer.
Ficou ali sentado, horas a fio, e enquanto o choro era eminente, ele engolia cada olhar e cada gesto, e nada pensara, pois não havia no que pensar. Acabou. Acabou tudo o que foi até agora, e não lhe deram tal data de validade. Acabou e agora, nada mais se salienta a não ser o nada. Sem ela ele não pulsa.
"Tarde demais, ela já se foi.
Tarde demais, se olhasse ao redor talvez não tivesse deixado ir.
Tarde demais, se tivesse demonstrado afeto e se importado, não estaria sentado esperando cair dos céus."
Enquanto ele engolia cada orgulho seu, mais fundo ela acelerava. Enquanto ele se achava certo de si, ele a perdia para sempre.
Tarde demais, que nunca seja para nós. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Se eu disser que já nem sinto nada, que a estrada sem você é mais segura, eu sei você vai rir da minha cara (...)(...) E quando eu falo que eu já nem quero, a frase fica pelo avesso (...) E quando finjo que esqueço, eu não esqueci nada (...) E te perder de vista assim é ruim demais (...)E faço das lembranças um lugar seguro ( ...)Mas toda vez que eu procuro uma saída, acabo entrando sem querer na tua vida" QUEM DE NÓS DOIS, Ana Carolina

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Seletando

"Tô bem".
E então você começa a desenrolar um texto que parece nunca mais acabar. Uma lição de moral, sermão de Igreja, qualquer coisa. Mas você não para e desenrola palavras que mal as percebe na correlação das variáveis - eu e você. E eu viro teu sujeito e tu se torna um verbo de ação incansável.
- Eu conheço o timbre da sua voz, sei as palavras que tu usa. Tu tá escolhendo. Tu tá quieta. Tu tá estranha! O que tu tem? "Nada, eu tô bem!". 
Não entendo a dificuldade em perceber que eu não estou de mal com você, e possivelmente, nem comigo. Eu só estou comigo, ao invés de estar com você e todo o resto.
Eu estou presa na minha casinha de madeira mal iluminada, onde tudo que passa me desperta um desejo inoportuno mas convincente: me desperta querer analisar, ter a minha base de opinião para depois formar a minha crítica, o meu preceito.
Hoje eu tô fechada em mim e não no mundo. Tô encolhida aqui dentro só com os "óinho" de fora.
Hoje eu quero ficar só pra mim, quero ver tudo do jeito que eu vejo.
Quero analisar, quero estar sã da minha opinião. 
Hoje eu não to pra me expor, me impor. Hoje eu tô pra ser, pra saber.
Hoje eu to monossilaba. 
Não to falando como quando sou regida pelo sol, mas estou falando tudo aquilo que somente se acha necessário sair de mim, ao invés de transbordar.
Hoje eu to seletiva, tô escolhendo meus amores, meus ódios, minhas opiniões, meus afazeres e até as palavras que uso. 
Hoje.