quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vive menina

Vive pequeno prodígio
Como quem vive por inteiro
Traga os elogios
E deixe as mágoas
Nas malas maltrapilhas


Vive menina
Como quem topa 
Em viver


Vive e não foge
Aguenta na linha
Que sem demora é a de chegada


Não sai de perto
Fica aqui
Não esqueça que 
Este coração é só meu
É todinho meu


Não me pregue peças
Fique aqui que sem demora
Tu viras menina-moça
E passa se encantando com a figura no espelho
Do rosto de bonequinha que agora fica maduro


Passa menina
O tempo não para


Dali a pouco tu és mulher
Aproveita, pequena
Aproveita enquanto é tempo


Pula corda
E esquece as anedotas
Que da vida te falaram
Segue o que queres


Vive menina, pois quem só existe não vive, não: já morreu






Vive menina até o fim: pois quem curte dias sem vida é porque vida não tem.

Me privar de ti e do resto

Resolvi deixar o que me retém para trás. 
Tudo aquilo que não me modifica, não me acresce, não me faz. Tudo o que me deixa mal, sombrio, de poucas luzes e sorrisos.
Que tudo não são flores, vá lá, já se sabe. Mas entre ficar aqui parado e ir em frente, prefiro seguir.
Porém, utópico é eu pensar que seguirei sem levar comigo todas essas dores, carmas, pesos nos ombros. Resolvi, friamente, e sem acreditar em mim próprio que iria dar um basta e aprender a dar lugar aos sentimentos bons: a acreditar em mim, a me querer mais do que a qualquer outra coisa, e principalmente, a não, de modo algum, recorrer aos becos, que como viciado procura sua droga, evitar de te ver, de sentir, de saber de tudo o que lhe rodeia e me fere: deixando-me assim por inteiro só para mim. Seu e de ninguém. E tu que não és minha, tornei-me dono do nada, pois nem de sorrisos de outras faces recebi depois de te ver ir.
Resolvi então, te deixar de lado, deixar aliás, você e todo o resto que não me soma e ir em frente, buscando mesmo que em noites frias, o meu sol. 
Porém eu dizia tudo isso e não acreditava em mim próprio: não levava fé que conseguiria, não acreditava que um dia reaprenderia a emanar e receber luz, a vibrar positivo e deixar de ser somente uma figura patética que se faz ilusitória, e muito pior: convincente aos que não sabiam o que se passava aqui por dentro.
Então sai porta a fora e quis gritar ao mundo: me proíbo de você. Eis minha solução.
Não te procurarias, nem iria saber de suas novidades. Não deixaria mais que aqueles outros me fizessem mal também. Me proibiria tanto de você, quanto a tudo que me fizesse mal : os amigos que se fingem, as bebedeiras, os sorrisos amarelos, o preceito da sociedade. Tudo aquilo que me crucificava por ser esperado que eu torna-se realidade. Só iria ficar com o que eu queria e pudesse realizar.
Mas não sei, confesso-te, por onde começar, muito menos onde terminará.Sei lá, tá indo. 
E que continue indo e indo melhor do que de vento em polpa: ir pra sempre.
Só não podia mais me permitir tamanha derradeira, tristeza sem sobrenome e me deixar diminuir pelo o que eu achara não mais possuir: força para sacudir a poeira e seguir em frente.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Caco reluzente

Quem corre é porque pressa tem.
Ou de chegar antes,
Ou de ver quem atrás vai.


Quem corre é porque
Tem medo que a calmaria mostre aos outros
Os erros que cometera por trás


Quem corre teme aos que são pacientes,
Que analisam para saber,
E não correm para esconder


Quem corre tem pressa de algo
Que ali não se cultua
E quem corre
- Mais que tudo,
Com a pressa que tu corres -
É porque algo esconde.
Nas escuras travessas
Nas noites de luas


Quem corre como tu
Sabe que logo mais
Topa em qualquer diamante
Que te faz perder a linha


Mas quem com tanta pressa se vai
Mal percebe que o diamante é joia falsa
Tipo bijuteria
Quem tanto corre não repara nos detalhes
Esquece que caco de vidro também reflete
E contenta-se com os cacos ao invés
De contentar-se realmente com os verdadeiros diamantes:


Aqueles que com a pressa, tornam-se imperfeitos





Isabel vivida

A mim não caberia aquela sensatez, calmaria das moças de boa família dotadas de bons sobrenomes.
Não era aquilo que eu desejava.
- Isabel queria mais do que ser boa filha, mãe, esposa, neta, requintada nos toques ao piano e moça de bons modos. 
Sabia sentar-se à mesa, lidar com os talheres de uma natureza impressionante. Dançava e tinha um bom papo.
Mas Isabel era mais do que pano de prato em aniversário de mulher casada.
Isabel não era objeto de casa, era objeto de si. Proprietária de suas pernas, que se ela não usasse, acabaria algum engraçadinho usando-as e desperdiçando-as.
Isabel combinava com as noites de lua cheia, com os boêmios da rua da Lapa e os bonitos vestidos vermelhos da dançarina de tango.
Isabel era bem mais do que a boa moça. Era uma moça boa - e como.
Queria levantar daquela cadeira bem estofada e correr às ruas, com o vento a bailar com seus cabelos negros e bem arrumados.
Almejava, mais que tudo, ser dona de si, e não dos outros. 
Queria pertencer ao mundo dos adultos, dos livres, dos que podem tudo. 
Dormir até meio-dia passado, pôr o salto mais alto, a saia mais bela e a blusa mais glamour. A maquiagem mais extravagante e, de uma vez por todas, sorrir, como quem sorri as crianças que brincam na praça. Sorrir de verdade, com um sorriso belo e enorme, deixar de lado o leve sorrizinho amarelo.
Isabel queria viver, cair nas noites e não dever satisfações ao marido arranjado. Isabel, mais que tudo, queria respirar um mundo todo seu: queria ser só sua e não mais dos outros.
Usar aquilo que Deus lhe dera ao invés de ser o que "Deus quiser".
Isa era tempestade demais para aquela paz. Era um vulcão que nunca cessaria. Queria vida.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Transmita

Não se prenda em si. 
Não se aprisione no seu mundo e se prive de conhecer tantos outros.
Não perca a inocência da criança ou a curiosidade do adolescente.
Queira acrescentar, aprenda a ensinar.
Não lhe adianta saber de tudo, ser o dono da razão, se levares isto aos sete palmos. Transmita.
Transmita amor, paz, educação e brilho nos olhos. 
Consiga colocar um sorriso nos olhos já cansados, ou paz no semblante da ira. 
Aprenda a dominar você mesmo, pois somos animais, e volta e meia agimos como o resto: não pensamos.
Confie que por mais preceitos que a sociedade tenha, que imponha o modo de vida, o modo do sorriso e o que deves ou não fazer, que o termo sociedade se adapta a " os outros", e os outros não te acrescentam, não te somam.
Os outros são aqueles que falam e não fazem. Ou falam e fazem justo o contrário. Não que seja condenável se contradizer às vezes. Não mesmo. Mas sim querer falar dos próprios erros visto nos outros.
Escute. Ouça a voz cansada de que fala, e ouça de quem está errado, principalmente. De quem está mal.
Assim, aos poucos, você acaba se moldando. Vai aprendendo a não se permitir cometer os erros que os outros cometem.
Falar é fácil, quero ver fazer melhor.
Mas mesmo assim, antes de repreender alguém, tenha a certeza absoluta de que deves, antes de mais nada, ser capaz de fazer muito melhor aquilo que vais criticar. Sá assim, fale.
Não critique com a raiva. A raiva torna qualquer crítica inviável, e com entendimento trocado. Espere passar e assim aprenda a tornar útil uma crítica, a ver as duas facetas que lhe criam.
E sempre lembre: aprenda todo dia, um pouquinho com cada um. Com o motorista do ônibus, com a faxineira, com o professor ou com qualquer outra pessoa. Todos emitimos além de uma energia, um ensinamento. Por mais desencaixado que pudemos ser, todos, sem a mínima exceção, ensinamos algo. 
E só assim, fazer valer aquilo que tanto nos vangloriamos por saber.

Não dependa do "eles"

Não espere. Não pare e se acomode esperando que a vida sopre a sua vela aos bons mares.
Seja o mastro que ergue a bandeira, seja quem levanta e vai em frente. Somente crie a coragem. 
Crie para sonhar, mas principalmente para tornar cada sonho seu, realidade. 
Esqueça quem não lhe faz bem, que lhe amarra ao pé da mesa, que ao contrário de você, acomodam-se e não deseja evoluir, mas sim atrapalhar quem evolui.
Tem gente assim.
Que bate o pé e vai em frente, bate até conseguir tornar realidade aquilo que pensa, que quer, que almeja, que estima.
Que defende a ideia, e sabe argumentá-la.
Que não se baseia em achismos, que não vai pelos outros. Que cria sua tese e faz dela teoria.
Mas meu caro, afaste-se, afaste-se mesmo daqueles que te prendem em solo ralo, que nada cresce, floresce.
Esqueça se pelo seu caminho aparecerem espinhos. Melhor do que flores que não te fazem pensar, são só os espinhos mesmos.
Eles te freiam, te fazem ver ao redor e rever você mesmo. 
Tem vezes que nos perdemos em nós mesmos e esquecemos de ver ao redor. É comum, é básico, natural de ser humano.
Mas por favor, não fique temeroso, esperando alguém lhe dar um empurrão. 
Clame por uma mão que possa lhe abrir portas, janelas, te levantar e trazer à tona novamente, mas não espere, nunca, empurrão. 
Não dependa dos outros para fazer aquilo que você pode. Se sonhas é porque pode realizar. Quase tudo é assim.
Se chega até nós, é porque com certeza alguém soube que poderíamos fazer. Somos capazes de desenvolver tudo o que nos cerca. 
Dependemos sempre da ajuda alheia, é claro e não é crime, ajuda a crescer ainda mais. Saber que precisamos dos outros não nos torna frascos, incapazes. Nos torna "alto-humano",  humaniza.
Mas aqueles que ficam presos ao pé da mesa....
Ficam sempre ali, esperando um empurrão, esperando que os outros tornem realidade aquilo que eles querem, mas acham mais fácil continuar na cadeira estofada criticando e julgando a quem dá a cara a bater.
O termo é esse: "dar a cara a bater", e aprender que por mais que doa, machuque, sangre, você se recupera, mas cada vez mais forte, mais sábio. Cresce em si.
Enquanto outros ficam sentados assistindo a novela da vida.
Fica para cada um escolher o que é melhor: ser expectador ou ator. 
Só não esqueça que somos o ator principal de nossas vidas, e não o fulano do lado. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A tua voz

De repente ouvi tua voz. 
Mas não era mais a doce e suave voz que eu estremecia, suava frio, trepidava.
Não era mais a mesma voz que me fizera por inúmeras vezes perder o chão e ganhar os céus.
O timbre que vinha de encontro ao vento era algo nostálgico, belo, dar sem querer nada em troca.
Assim éramos.
Mas a tua voz passou a ser somente uma fala. Não me trazia mais nada, só tirava. Não me somava, só diminuía.
E passamos a não mais multiplicar nosso amor, só dividi-lo.
Passamos a ter nosso amor em conta gotas, de um jeito tão sórdido que por vezes eu fugia.
Mas a tua voz passou a ser não mais o que me cativava, que eu lembrava a todos os momentos, mas sim algo que quando dirigido a mim, me tirava.
Ainda assim, há respingos de nós dois, que vem conforme o vento, e trazem boas brisas.
Trazem nosso aconchego, nosso carinho, nosso jeito de ficar e nunca mais ir.
Traz o nosso cheiro e nosso beijos.
É aquela tua voz me pedindo baixinho, ao pé do ouvido, para que tentamos outra vez. É a tua voz que me acorda nas manhãs que eu por vezes quis poder continuar a dormir, só pra saber que você estaria acordado, sorrindo ao me ver de olhos fechados e esperando para me dar bom dia.
Mas às vezes se vai. 
E é quando parece que nunca mais voltará.
A tua voz...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Esquecemos que podemos

Vivemos ocupados com nós.
Reclamamos das poucas vinte e quatro horas porque as ocupamos somente conosco, esquecemos de doá-las aos outros.
Esquecemos que viver é mais do que ser, é preciso acrescentar a algo. 
Que saber sem ensinar, não serve para nada, tão pouco para si mesmo, pois não é de hoje que muitos existem e poucos vivem.
Alguns acumulam bens, mas não acumulam amor. Acumulam riqueza mas são miseráveis em paixão.
Acumulam anos mas esquecem de acumular vida.
Outros acrescentam dias em suas vidas, mas esquecem de introduzir vida a seus dias, deixando com quem toda sexta torne-se qualquer quinta-feira mal dormida: ansiosa pela sexta, mas mantendo-se as obrigações que o externo nos obriga.
Esquecemos que por hora se faz mais importante um bom entendedor do que bom falador. Que compreender a você mesmo, lhe confere uma melhor fala para com os outros. Que além da fala aos outros, compreendê-los nos faz crescer.
E principalmente, esquece-se que mesmo o cargo com o menor status, ensina sempre algo a mais. Se não ensina vida, ensina trabalho. Se não ensina trabalho, ensina alma.
Que a cada dia podemos optar por uma nova lição, ou continuarmos a enganarmos com o nosso "saber quase nada", que achamos ser quase tudo, tornando-se servos do próprio escudo que criamos esquecendo que vivemos em conjunto. 
Esquecendo que vinte e quatro horas tornam-se suficientes quando colocamos a alma na frente do corpo.