quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Só vai quando não viva

Ela se convencia, então, a cada dia fugir daquela realidade que antes doía como ferida aberta. Agora o negócio andava cicatrizando, mas qualquer batida, sangrava, transbordava. 
Os dias foram se passando e foi sendo sensato aceitar a realidade, começou a ser bom deixar a vida fluir e não esperar demais, e muito menos, te esperar
Não esperar nada da vida realmente tornou-se o hobby mais bonito, e de vez em quando, aquele brilho dos olhos da menina voltava, dava as caras, e enchia de luz todos ao seu redor, e fazia do sorriso dela o mais tocante. Ele vinha de uma profundeza tão delicada, que ainda sofre com as sombras, e chega na superfície, rica da alma, sua fonte.
Sabe que no início ela pensou que não ia dar certo? É,ela chegava a sonhar, mesmo que não quisesse. Ou melhor, confessemos, ela segundinhos antes dos olhos se fecharem, desejava com o coração em tanto silêncio que nem Deus escutava: faz ele vir até mim, faz!
Mas não veio, não vinha, e talvez, nem virá.
Então certo dia ela se lembrou que estava vivendo sem aquela parte tão profunda da sua vida, e que nem tinha notado que ela havia saído de cena. Claro, todo o dia pensava nele, mas menos, menos, e passou a ver os defeitos que o amor ou a cabeça dura dela negavam, escondiam, ou eram mentiras pela metade.
Entretanto, ainda lhe causa arrepio na coluna e frio nas mãos pensar que o ''the end" tá dando as caras.
Ela sabe que mais dias ou menos dias, dá as caras na frente dele, sorrindo e se matando de ódio por não conseguir realmente, soltar o verbo e mostrar que ela aprendeu a não mais abaixar a cabeça e rezar em silêncio. Ela aprendeu, então, a crescer, a defrontar-se, e principalmente, aprendeu com ele. 
A vida agora anda mansa, ela me contou, anda fluindo, indo e vindo, mas nesses últimos dias, parece que resquícios de uma bebedeira mal acabada, de um choro reprimido, de uma necessidade inquietante, começaram a aparecer, e aquele bruxismo que era dele, agora é dela. Ela sabe, ela sente, ela prevê. E prevê de verdade. 
A aura da menina sem ele anda tão boa que ela só pensa naquilo que quer que aconteça, e como em um passe de mágicas, acontece. E acontece mesmo, duvide quem quiser
... Eu não duvidaria, ela sempre teve um dedo puxado pro místico, se vê nos olhos que é oblíqua. 
Aqueles olhos dela escondem mares profundos, que se dissimulam em qualquer situação de perigo, e enxergam muito mais do que as outras pessoas enxergariam. Ela tem aquele dom estranho de saber o que está acontecendo, de ler a alma da gente e com os mesmos olhos, quando nos mira, responder as questões mais inquietantes da nossa própria alma. Sem ao menos abrirmos a boca.
Mas como contava, agora, ela vê ele muito, ele anda presente. Ele e os predicados e complementos da criatura.
Falta pouco tempo para forçar-se a vê-lo. Essa história de fim sempre tem aquela parte em que um esquece uma coisa na casa do outro, só pra ter a desculpa para ver se o amor acabou. E eis a questão, acabou ou não acabou?
Agora ela sabe que vai doer, que vai ser horrível e que de certa forma, seu estômago comprime e a alma repugna só de pensar em vê-lo. Mas o coração bem escondidinho clama por saber o que se passa do lado de lá. E talvez seja bom para aquietar a menina.
Daí te digo, menina, vai se dói, vai se tu não aguentas mais a falta dele e ele nem lembras de ti. Mas vai sabendo, para de iludir, vai sabendo que café preto caliente queima a alma. E que quem sabe, os sorrisos teus e dele, quem sabe, estejam ligados no mesmo destino.
Mas faça a sua escolha. Você e a sua harmonia, ele e o seu desespero de nem mais saber quem és.
Deixa que a chuvarada passe e então, em dia que estiveres só existindo, veja-o. Mas não vá nos dias em que estiver vivendo, porque daí, doce, você se encanta e babaus, ele solta o seu veneno e te envolve na mesma casca dura.

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